Qual parte do meu coração vai ser operada? - Uma revisão simples de acessos cirúrgicos e anatomia
- Vinícius Costa
- 23 de jan. de 2020
- 4 min de leitura
Você pode assistir o vídeo clicando na figura, ou se preferir direto no YouTube pode clicar no link abaixo:
Hoje vamos utilizar um modelo plástico e algumas imagens para entender as cirurgias mais comuns e quais as partes do coração serão acessadas.
Essa é uma pergunta muito comum: qual parte do meu coração será operada? É uma cirugia aberta? Qual o tamanho do corte? O que vai ser feito? Então esse vídeo responde a grande parte das perguntas.
Para facilitar, vamos dividir o tema.
Cirurgias abertas - são aquelas em que o tórax do paciente é aberto e o cirurgião e sua equipe vão acessar diretamente as áreas a serem operadas; ele pode ver os órgãos. Dois exemplos são a troca de válvulas e ponte de safena.
Cirurgias minimamente invasivas - são feitos pequenos acessos ou cortes, por onde vamos passar uma camera e instrumentos, e pode ser feita inclusive com auxílio de um robô. É bem similar à cirurgia aberta, porém não há visão direta do órgão. O cirurgião opera vendo por uma tela. Alguns cirurgiões optam por essa técnica para realizar plástica mitral, com ótimos resultados. A cirurgia robótica ainda pode evoluir bastante na cirurgia cardiovascular e hoje (início de 2020), ainda não é tão comum em nosso meio.
Cirurgias endovasculares - o cirurgião vai fazer uma punção, e através de uma pequena bainha, que pode ter o calibre de uma carga de caneta até o de um dedo mínimo. Através dessa bainha, que passa a ser nossa porta, o cirurgião utiliza fios especiais para guiar as próteses por dentro dos vasos. Para “enxergar” dentro dos pacientes, utilizamos uma maquina de raios X, que faz imagens em tempo real. Três exemplos são o implante de marcapasso, as endopróteses (que tratam os aneurismas e dissecções na aorta e seus ramos), e o implante de prótese aórtica através de cateter.
Quando nos preparamos para uma cirurgia aberta, precisamos de fazer um acesso mais amplo. Geralmente ele é feito bem pelo meio, como essa linha na figura. Aí então temos acesso ao coração.
Temos aqui um modelo plástico, e em tamanho bastante aumentado, do coração humano. Ele é bem menor, proporcionalmente deste tamanho, e podemos ver um de verdade nessa foto. É um órgão musculoso, com algumas áreas amareladas, que são acúmulos de gordura. Esse acúmulo na área externa é normal, acontece também nos corações jovens e saudáveis. O acúmulo de gordura é considerado um problema quando ocorre na parede das artérias, chamado então de aterosclerose.
Aqui temos os vasos que chegam no coração, pelo lado direito as veias cava superior e inferior, e pelo esquerdo, as veias pulmonares. Aqui os vasos que saem do coração: tronco da arteria pulmonar, levando sangue para ser oxigenado, e a conhecida aorta, que leva distribui sangue rico em oxigênio para todo o corpo. Esses três ramos são o tronco braquicefálico, carótida esquerda e subclávia esquerda, que distribuem sangue para os braços e a cabeça. São nesses vasos, as cavas e aorta, que conectamos a máquina de circulação extracorpórea, que vai manter o sangue circulando e oxigenado durante o tempo da cirurgia.
As artérias coronárias, vasos que levam oxigênio e nutrientes ao coração, ficam do lado de fora do órgão. Quando temos uma obstrução grave ou mesmo completa, indicamos a revascularização do miocárdio. Ela pode ser feita através de angioplastia, que é uma técnica endovascular, ou por cirurgia aberta, que é a conhecida Cirurgia de revascularização do miocárdio - popularmente conhecida como ponte de safena e mamária. Para entender a decisão entre as duas técnicas, vamos fazer um outro vídeo. Voltando à “cirurgia de ponte”: identificamos a artéria obstruída através do cateterismo, e no procedimento confeccionamos uma verdadeira ponte, que leva sangue da aorta até as áreas isquêmicas, que estavam sem suprimento. A ponte é feita da veia safena do próprio paciente ou de uma artéria que se chama mamária (que fica dentro do tórax). Na superfície do coração também podemos fazer implante de eletrodos para estimulação, como alternativa para os marcapassos.
As cirurgias que acessam as cavidades cardíacas são corrigem defeitos nas válvulas, representadas em branco no nosso modelo. Detalhe rápido: valva ou válvulas? Chamamos de valva o conjunto das três válvulas ou folhetos. Então aqui vemos a valva aórtica, logo ao seu lado a valva pulmonar; retirando a tampa do nosso modelo, podemos ver a valva mitral e a tricúspide. Quando for operar de válvula vou precisar abrir o coração desta forma? Isso não é feito, fique tranquilo. É feito um pequeno corte aqui no átrio, que é uma câmara com paredes finas e pequena camada muscular. Aqui dentro podemos ver também a divisão das cavidades: átrios direito e esquerdo, e seus respectivos ventrículos. A correção de comunicação entre as câmaras é feita aqui, quando é interatrial, aqui, quando interventricular. Nessa região, o septo, passam feixes de condução, como se fossem fios elétricos que conduzem o estímulo cardíaco. Geralmente procuramos essas áreas durante o implante do marcapasso, Cdi e ressincronizador.
Em todas essas cirurgias citadas o coração não é retirado do paciente; nós optamos por trabalhar numa menor área possível, com acessos delicados e pequenos. A clássica exceção é o transplante cardíaco. Nessa sim, o coração doente é removido, e o paciente recebe um órgão totalmente novo.
Espero que tenham gostado e matado um pouco da curiosidade. Outras dúvidas, entrem em contato pelos canais do site. Um abraço!
Boa Noite, gostei muito dos cuidados que tenho atomar, fui importante assistir o vídeo, estou muito feliz de participar desse tratamento, obrigado a equipe por me dar está chance de vida saudável, obrigado a todos.